segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Ensino da Arte

No contexto educacional em que estamos vivendo torna-se muito importante discutir e encontrar formas de se conseguir atingir a principal reivindicação dos textos relacionados acima: um verdadeiro ensino da Arte na educação infantil e fundamental. Apesar de dois dos textos tratarem principalmente de educação musical, é claramente expressa a insatisfação com a maneira como esta vem sendo desenvolvida, ou, como diz o título de um deles, negada na escola. É claro que não se trata de algo universal, mas é fato bem corriqueiro em nossas escolas públicas e até privadas.

Infelizmente, o ensino da arte, em sua forma ideal, tem sido, comumente, rejeitado, desperdiçando assim também as oportunidades que as artes oferecem às crianças, como as apresentadas por Eisner: cultivo da sensibilidade, imaginação e julgamento, além do acesso às riquezas de nossa cultura e uma das mais importantes formas de expressão da humanidade. Assim são as artes. Formas de representação, uma forma de linguagem, de pensar, de saber, que tem grande contribuição na educação integral dos indivíduos.

Como pode se desperdiçar o ensino da arte? Tornando-a meramente ornamental e dispensável, um “privilégio” dos alunos quando estão tendo um bom rendimento nas outras áreas do conhecimento consideradas principais ou um recurso quando há necessidade de expor ou apresentar algo para outros. Geralmente, isso se dá tendo um objetivo meramente estético e uma preocupação apenas com o produto final, sem desfrutar do processo todo. O professor acaba perdendo a possibilidade riquíssima de observação do educando e este perde oportunidades de exploração da arte, em qualquer de suas formas, de pensar sobre ela e interagir com tal sem interferências iniciais. Esse é o desafio proposto por Silva em seu texto. Ela insta com os professores para que atuem numa perspectiva construtivista com relação à educação musical, e relembra-nos de um fato essencial, não só no ensino musical nem tampouco apenas no ensino da arte, mas de qualquer conhecimento, através das palavras:

“Esquece-se que a criança recebe informações válidas a respeito dos objetos e acontecimentos, na medida em que age sobre estes, tocando-os, olhando-os, ouvindo-os e ‘pensando’ a seu respeito; esquece-se ainda de que ela assimila essas ações e nesse processo desenvolve o conhecimento. Os símbolos falados ou escritos não podem substituir as ações da criança na construção do conhecimento.” (Silva, p.91)

Ao nos apercebermos desse fator, acima descrito, que é imprescindível para o processo de conhecimento da criança é fácil vermos, claramente, onde e como temos falhado no ensino da arte atualmente e também o quanto temos defraudado nossos alunos em seu direito a uma educação de qualidade que vise o desenvolvimento integral dos sujeitos.

Mas como reverter essa situação? Nessa perspectiva é que vem trabalhando Cândido em seu texto, buscando alternativas para o ensino musical sair da superficialidade ou negação. E em uma de suas falas ela diz que talvez “...primeiramente, precisemos mudar a mentalidade de quem ainda ensina acreditando em talento ou dom.” (Cândido, p.62). Bem, eu acredito que essa seja uma saída inicial para o ensino da arte em geral: mudar a mentalidade de quem ensina. Como disse Freire (1998):

“Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que, por não ser neutra, minha prática exige de mim uma definição. Uma tomada de posição, decisão, ruptura. Exige de mim que escolha entre isto e aquilo. Não posso ser professor a favor de quem quer que seja e a favor do não importa o quê.” (Freire, apud Cândido, pág.64)

È necessário, conscientizar os educadores e motiva-los, faendo-os comprometer-se com o ensino de qualidade também nessa disciplina. Pois é básico oportunizar aos educando vivências entre os recursos culturais da sociedade, compreendendo-os e usufruindo os.

No entanto, creio que haja também a necessidade urgente de preparar melhor esse educador para o ensino da arte, qualificando-o e instrumentalizando-o para o exercício pleno de suas atividades. Ao falar em instrumentalização não me refiro apenas na perspectiva de materiais, pois estes são substituíveis e dinâmicos, mas me refiro à técnicas e possibilidades estratégicas no ensino artístico. Pois, ao meu ver, a falta de preparo é, igualmente, um dos motivos para o descaso, consciente ou inconsciente, para com a arte.

A mesma compreensão que Cândido (pág.71) tem, da música na escola, tenho para com a arte em suas mais variadas formas que apresenta, parafraseando-a: arte na escola é possível, é necessário, é imprescindível... Ressaborear, fruir, transcender, reencantar vidas humanas desvividas no espaço educativo é urgente... E, creio, há saída para a situação atual da arte na educação, basta um compromisso individual e coletivo de fazer a diferença onde estivermos.


Produção escrita relacionando e discutindo os textos de referência:

  • A expressão musical para crianças de pré-escola – Leda Maria Giuffrida Silva
  • O papel da Arte como disciplina – Elliot W. Eisner
  • Música na escola: conhecimento negado ou trabalhado de forma superficial – Celir Barela Cândido

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